quinta-feira, agosto 27, 2009

A TORRE DA MÚSICA


Acho que chegou a hora de relaxar um pouco. Pensei bastante sobre o que escrever (estou ficando muito preocupado com meu público...rsrs) e decidi deixar um ponto de vista meu sobre o preconceito. Provavelmente vocês devem estar achando que lá vem mais um daquele textos sobre questões étnicas e sociais, mas não é isso.
A narrativa bíblica sobre a Torre de Babel, erguida com o objetivo de chegar ao céu, mostra um contexto de diferença de línguas e culturas, existente na fértil região entre os rios Tigre e Eufrates. Assim também o o Brasil, plural, mas cercado de visões unilaterais.
Gostaria de falar sobre o preconceito que há sobre a preferência musical. Sinto que muitas pessoas ditas intelectuais -os verdadeiros nunca assumem que são- têm o hábito de discriminar o gosto de outros indivíduos, acreditando que certos artistas não prestam ou mesmo alguns eleitos como de vanguarda traduzem a essência da arte e o resto que se dane.
Acredito que não é bem assim. O Brasil é um verdadeiro balaio de cultura e as diversas expressões dessa identidade plural, feitas através da música, merecem ser respeitadas. Não quero dizer que não devemos ser seletivos. Não é isso. Acho somente que, nos diversos ritmos e vertentes musicais existentes, há coisas a serem valorizadas. Julgar-se melhor do que o outro por gostar de um artista enquanto o outro o detesta é um preconceito cultural que me assusta.
Ouvir de Chopin à Psirico não é uma obrigação, no entanto, desmerecer quem porventura não gosta de um artista ou de outro é sim uma atitude que eu desprezo. A música revela o que somos por dentro e essa individualidade se reflete nas escolhas que fazemos.
A Torre de Babel musical que é o Brasil nos faz pensar o quanto a diferença ainda é um obstáculo a ser superado e como essa barreira ainda nos impede nos unirmos e sermos cidadãos melhores. Há que se respeitar os operários da música brasileira e valorizar quem prima pela qualidade. Um dia chegaremos ao céu. Até mais!

7 comentários:

MdC Suingue disse...

A mídia cultural brasileira sempre funcionou na base da ruptura, para erigir um novo ícone tem que destruir o outro, sempre contrapondo e raramente contextualizando.
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Isso faz com que ela viva em um regime de 'monocultura', que acaba se incutindo em nós.
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Para gostar de Emilinha, não pode gostar de Marlene; para gostar de samba não pode gostar de guitarra, se agora a bossa é emo, esqueça o mangue bit, se a bossa é nova então, já viu né, não se fala mais nem da invenção da roda.
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Eu faço um programa de rádio que é focado na diversidade da música brasileira, e posso provar por a+b que quem quer escutar música boa está muito bem servido, basta desligar o rádio e a TV e abrir os olhos e ouvidos. .

Rodrigo Marques disse...

Muito obrigado pelo comentário!! Vc é de onde? O Politinia está sempre aberto à ideias e pessoas como vc!

Sunshine disse...

Acho que discussão vai muito além, Rodrigo. Pra falar de diversidade musical precisa ir muito além. O que vc diz pode até se encontrar em alguns pontos no conceito que se dá a cultura. A cultura não está só nas artes, na música, no teatro etc... e tal. A cultura é toda a manifestação humana. Mas o que eu quero dizer é que diversidade musical não é simplesmente ovacionar quem pega um cavaquinho, solta 3 notas, meia vogal e se auto-intitula compositor. Não é por aí não. Eu até posso concordar com vc, em parte qt aos pseudos intelectuais, que por exemplo, não aceitam sequer a ascensão de suas bandas ao cenário musical, são os chamados underground, pseudo-cults, não é bem por aí. Para tudo deve haver flexibilidade. Agora, não se deve comparar Chopin com psirico, se foi isso o que vc tentou fazer. Ao amigo aí em cima que comentou, eu digo, tudo é cultura. Tudo o ser humano faz, a maneira como anda ou veste, não existe um movimento de monocultura no Brasil, se existisse, Bossa Nova não estaria lá fora nas primeiras prateleiras, enquanto no seu país de origem uma mínima parcela da população ouve, aqui limitam-se a dizer que é: Chato!
E se a gente parar p falar no movimento mangue beat... sou obrigada a dizer, nem ao menos o povo de Recife hj direito, eles fazem shows gratuitos e quem curte é turista. Acho que há uma visão equivocada. Se há preconceito, não é por parte das pessoas que ouvem Chopin, e sim, daqueles que ouvem psirico. Pq se vc parar para analisar, verá que enquanto estes fazem shows para 1000, a galera lá da Bossa, tem que rebolar p fazer DVD-documentários pra se imortalizar.

Rodrigo Marques disse...

Já percebi que vc virou uma espécie de Ombudsman do meu blog. Os argumentos estão aí para serem debatidos e essa é a ideia do blog. Valeu!

Francy disse...

Falando em música tudo é muito relativo (gosto não se discute) – o que dizer dos torcedores do Bahia? Desculpa Rodrigo, sua camisa me inspirou. Aprendi que religião, futebol e gosto (política perdeu o posto) não se discutem. Mas como o blog aqui se chama POLITINIA, é ótimo ver vários pensamentos diferentes de um mesmo assunto. Viva a diversidade!
O que seria da cultura brasileira sem o samba, sem o Funk (que depois de 40 anos, após Projeto de Lei, se tornou movimento cultural carioca), sem a bossa nova, sem o axé music, sem o pop rock, sem o pagode, sem o mangue beat, sem o reggae, sem o forró, sem a lambada, sem o frevo, sem o hip-hop, sem o sertanejo, sem a milonga, sem o vanerão, sem o arrocha, sem o boi-bumbá e tantos outros.
O brasileiro tem o dom de tornar o mais simples encontro de pensamentos em espetáculo (quem explica o sucesso de Mamonas Assassinas, Tiririca, Falcão). E sim, somos um povo erótico por natureza e a beleza chama atenção! A erotização na dança chama a atenção! A banalidade nas letras sem fins culturais chama a atenção!
A bossa nova nasceu em um período político, estamos em outro totalmente diferente. Se levarmos pela vertente histórica, vivemos em um período de TER e não SER, tenho o carro melhor, a faculdade mais cara, a beleza que a mídia impõe as melhores oportunidades de emprego. Quando um grupo da periferia reúne multidões em torno de um ritmo longe dos padrões intelectuais, quem explica? Nem Freud!
Música é expressão política e sentimental. Temos as mais lindas canções de amor, como também os mais belos protestos políticos em forma de poesia. Possuímos ritmo e inteligência suficiente para compor desde “Garota de Ipanema” até “Todo Enfiado”. Dos extremos: “Como é Grande o Meu Amor por Você” ao “Fogão DAKO” de “Como Nossos Pais” a “Florentina” e vários outros exemplos. O legal é a variedade. Quem resiste ao som do DJAVU? Um bom pagodão ou um arrocha? Não quero comparar, aliás, não há comparação. Gosto de música e o ritmo depende do momento, quantas vezes gostamos de uma música estrangeira sem conhecermos a letra?
E quem não se lembra do choque cultural da dança da garrafa com É o Tchan? -Que horror, que baixaria, que lixo!!! Transformou-se em convidado de honra em casamentos, formaturas, batizados. Nos mais chiques ambientes os convidados estavam a descer na boquinha da garrafa.... Sem falar do Créu – figurinha fácil em eventos.
Já a questão de quem vende mais ou menos depende da mídia envolvida. Positiva ou negativa a publicidade é válida, o importante é lotar casas de shows. Cultura é momento e pelo visto a maioria da juventude brasileira está preocupada em TER e não SER, ESTAR e não PENSAR.
A torre de Babel é pequena para a nossa diversidade cultural!!!!

Rodrigo Marques disse...

ótima análise! A ideia é justamente essa! Temos que entender que cada tipo de música tem a sua função e que a expressão cultural é algo que faz parte de qualquer movimento musical. O difícil pra muitas pessoas é entender esse conceito maior sobre o que é cultura e essa é a gênese de todo preconceito. Esse post rendeu...tenho que me superar a partir de agora!

João Vitor disse...

Bem, o bom mesmo é ser ecletico e saber ouvir tudo, apreciar cada tipo de manifestação de qualquer ritmo, viver a liberdade de expressão e cultura, ouvir, seja classico, rock, pagode, funk, nacional ou internacional, o bom mesmo é o conhecimento de estilos, para saber discutir com cada tipo de pessoa com seu gosto