sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Eu e o Carnaval



Ainda bem que o carnaval passou. A já conhecida frase: "O ano só começa depois do carnaval" se torna cada vez mais verdadeira, principalmente quando criamos expectativas e pretendemos realizar projetos durante o ano.

Apesar de morar muito próximo de toda folia que é o carnaval de salvador, não me sinto parte da festa e há 15 anos, devido principalmente a um hábito criado na minha
família, não vou pular atrás dos trios elétricos.

É engraçado ter essa relação de distância com algo que está tão perto e ao alcance ao mesmo tempo, mas é exatamente isso o que acontece. Até tinha me programado para quebrar esse tabu em 2010, mas novamente os planos deram errado.

Sou muito ligado ao universo musical e como não poderia deixar de ser, sou um apaixonado pela Axé Music, música feita aqui na Bahia que dá tom da folia momesca. Todos os anos acompanho o cenário dos novos artistas e procuro ficar por dentro de todas as novidades sobre músicas, estilos e tendências que o Axé traz à tona para a avenida.

Este ano me frustrei muito com tudo que vi. Acho que o pagode baiano, que tem origem no samba-de-roda e na chula do recôncavo, passa por um momento interessante de mudanças, que tem como característica principal a inserção de elementos do pop, do eletrônico e do Hip Hop. Essas inovações são perceptíveis e agradáveis na parte percussiva do ritmo, mas as letras ainda, em sua grande maioria, deixam a desejar.

Rebolations à parte, percebo que o carnaval baiano tem se consolidado como um evento cada vez mais focado no nome dos grandes artistas, hoje donos dos seus blocos e que mandam e desmandam na festa. Cada vez mais a essência de uma festa popular e democrática tem dado lugar à lógica de se ganhar dinheiro, que veio junto com a profissionalização da folia.

Muitas questões ainda precisam ser revistas e a intenção do Politinia não é apontar situações certas ou erradas. O carnaval de Salvador entrou em um caminho sem volta, onde quem pode pagar pra se divertir tem o seu espaço, tanto nos blocos, quantos nos camarotes, e os que não podem, se arriscam nas ruas.

A Secretaria de Segurança Pública anunciou uma redução de em média 7% das ocorrências neste ano com relação ao ano passado. É um número significante, mas que ainda está longe de ser o ideal.

A maior festa popular do mundo traz consigo as mazelas de um povo que sofre com a falta de oportunidades e de respeito por parte das autoridades. Isso se reflete na situação dos cordeiros, na violência gratuita, nos inúmeros assaltos e na sensação de insegurança que faz com que grande parte dos soteropolitanos prefiram viajar e fazer outras coisas, assim como eu.

Tenho muita vontade de rever o carnaval. Minhas lembranças de 8 anos de idade são muito claras, mas sei que ao longo desses 15 anos muita coisa mudou, quase tudo na verdade.

Sou um defensor da música feita aqui e dos artistas, com algumas ressalvas que não vem ao caso agora. Gostaria muito de ver a celebração maior do Axé Music e sentir tudo isso de perto. Quem sabe em 2011?

Agora que a folia já passou, é hora de começar o ano de verdade. 2010 está só começando e tenho certeza de que será marcante para as discussões aqui no Politinia. Guardemos os abadás e até mais!