quinta-feira, setembro 10, 2009

Vivendo pela metade


Falar da violência urbana se tornou algo clichê na mídia. Parece que nós, enquanto público, nos acostumamos a ter no nosso cotidiano notícias sobre prisões, assassinatos, crimes hediondos e fazer de tudo isso mais um assunto para as rodas de conversas que temos entra amigos ou mesmo para iniciarmos uma conversa com um desconhecido no elevador ou em alguma fila, por exemplo.
Temos muitas vezes a impressão de que toda a desgraça mostrada pela imprensa é uma espécie de "ficcção" ou algo que jamais nos atingirá. Até que chega a hora e damos de cara com um assalto, um homicídio que envolve algum conhecido ou a descoberta de que tal pessoa cometeu algum crime. Esse tapa na cara que nos desperta pra realidade me ardeu e muito.
Nos últimos tempos,já passei algumas vezes, de forma indireta e indireta, por diversos tipos de situações relacionadas à violência urbana. Meu pai foi rendido por bandidos e teve seu carro roubado, presenciei um elemento tentando invadir a casa da minha namorada, tive alguns conhecidos assassinados por manterem alguma relação com o tráfico e fui agredido inocentemente em uma festa. Ontem minha irmã teve dificuldade de pegar um ônibus devido à onda de vandalismo e criminalidade que está tomando conta de Salvador. Tudo isso aconteceu só em 2009.
O que tem mexido muito com a minha cabeça é pensar no que estar por vir. Qual será a próxima tragédia? Quem morrerá? O que poderão roubar de mim?
"Viver com medo é viver pela metade", já dizia Fernando Pessoa. Sou apenas mais um brasileiro que se vê refém de um país entregue às baratas, onde a política, que deveria servir pra construir bases sólidas pra sociedade, como a educação e a geração de emprego, está repleta de pessoas que visam apenas o interesse pessoal e manter-se no poder significa passar por cima dos discursos de outrora. Acho que o bem comum passa longe dentro do jogo político atual.
Não quero e nem sei como podemos sanar o problema da violência, mas sei, como todos sabem, que a desigualdade social é um fator preponderante nesse contexto todo. É complicado ter que viver dominado pelo medo e saber que em qualquer lugar hoje estamos vulneráveis à criminalidade.
Todos nós, direta ou indiretamente, já sofremos algum tipo de violência. Hoje não adianta ser rico ou pobre. A violência urbana é o que temos de mais democrático no Brasil. Todos vivemos com a incerteza do dia seguinte, mas nunca deixamos de crer que dias,anos e séculos melhores possam chegar. Será que sonhar com um país assim é utopia? Espero que não.

Nenhum comentário: