quarta-feira, setembro 15, 2010

Reality shows policiais: Mude o canal!



Lembro que estava na casa de praia de uma amiga, quando uma tia dela falou de um filme que havia assistido. Disse que contava a história de um grupo de elite da polícia carioca e estava fazendo o maior sucesso na pirataria. Ela se referia à Tropa de Elite e confesso que fiquei curioso pra ver mais um filme nacional, que falasse da realidade social brasileira, sempre tendo a violência com plano de fundo. Até aquela ocasião, Cidade de Deus e Carandiru tinham sido os melhores sobre essa temática que eu havia assistido.

A fantástica atuação de Wagner Moura e o enredo do filme me cativaram. Tropa de Elite se tornou uma febre antes mesmo de ter estreado no cinema. Quando ele foi para as telonas, muitas pessoas já haviam assistido e quiseram apenas constatar se a versão oficial teria alguma diferença com relação à pirata.

Aqui na Bahia, programas que mostram o cotidiano da polícia e o combate à criminalidade têm uma audiência relevante. Eles mostram as prisões de traficantes, ladrões, foragidos e chegam até mesmo a cobrir as ações policiais nos bairros, revelando toda a tática de combate ao crime feito em determinadas operações.

Essa é uma tendência que agrada não só o público baiano. O programa “Polícia 24h”, exibido na Band, e o “Operação de Risco”, transmitido pela Rede TV!, mostram as rondas policiais como se fossem reality shows. Eles trazem situações arriscadas enfrentadas pela polícia no dia-a-dia, tendo a necessidade de colocar em evidência a busca pela “realidade à qualquer custo”.

Segundo informações do portal Terra, “Operação de Risco é uma produção da Rede TV! em parceria com a produtora Medialand, inspirado no seriado americano Cops”. A polícia dos Estados Unidos também enfrenta diversos problemas, mas é indiscutível que eles possuem uma outra estrutura de preparo e uma forma de atuação muito diferente da que temos aqui no Brasil.

A exibição de reality shows policiais mostra a necessidade que nós telespectadores temos de sentir que algo está sendo feito contra a onda de violência que nos assola. Mais que isso, revela como até a violência pode render audiência e lucro para a mídia. Para muitos meios de comunicação é ruim com ela, talvez pior sem ela. Espreme que sai sangue.

A segurança pública é o grande assunto na pauta das discussões destas eleições. Todo mundo promete ter a fórmula para mudar esse quadro que atinge a todas as classes sociais. Mais do que mostrar a realidade como ela é, como é o caso desses reality shows, é preciso que haja sérios investimentos no combate ao tráfico de drogas, preparando melhor a polícia, oferecendo-a mais recursos de atuação e melhores salários.

Na frente das câmeras tudo é mais bonito. Todos parecem querer interpretar o papel do Capitão Nascimento, aquele que era movido pela paixão em ser policial e honrava a farda. O que vemos no nosso cotidiano é que muitas vezes somos maltratados pela polícia, o que revela seu despreparo par lidar com educação com aqueles que de fato optaram pelo “caminho certo”.

A síndrome de Tropa de Elite deve ser substituída por uma política sólida de atuação no combate à violência. Mais do que preparar a polícia é preciso, no outro lado do jogo, oferecer oportunidades àqueles que muitas vezes têm tudo para cair na criminalidade. O processo de fortalecimento da educação é algo que deve acontecer em paralelo com a atuação do Estado na busca pela tão sonhada paz.

Deixemos de lado esses programas que mascaram a realidade. Todos sabemos o quanto temos que cada vez mais nos esconder nas nossas casas. Vivemos em um eterno clima de tensão. Precisamos de atitudes e não de reality shows e diversos programas que fazem uma hipócrita prestação de serviço à sociedade.

Mudar o canal já seria uma boa atitude. Sem audiência esses produtos televisivos deixarão de existir. Sei que posso estar parecendo pretensioso, mas já faço a minha parte.

O Tropa de Elite 2 está vindo aí. Certamente será um sucesso de público. Que a espetacularização da polícia fique apenas na ficção e possamos ter na vida real algo concreto, que mostre que uma boa segurança pública é possível. Vote certo!

Até mais!

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